A exigência de excelência em absolutamente tudo tem se tornado uma fonte silenciosa de sofrimento psíquico. Mesmo atividades que, em sua essência, deveriam ser prazerosas e espontâneas — como correr, cozinhar, ler ou praticar um hobby — são capturadas por uma lógica de desempenho. Cada vez mais, o valor pessoal parece atrelado à produtividade: contar quantos livros leu no mês, quantos quilômetros correu na semana, quantos suplementos consome, quantas metas atingiu. O lazer deixa de ser descanso e se torna mais uma arena de comparação, autoexigência e validação externa.
Na prática psiquiátrica, é frequente encontrar pessoas esgotadas não apenas pelo trabalho, mas pelo próprio esforço de serem suficientemente boas em tudo o que fazem — inclusive no que deveria aliviar a tensão. Ansiedade, insônia, irritabilidade e sensação constante de inadequação são expressões comuns de um corpo e uma mente que nunca podem simplesmente estar, apenas melhorar.
É possível reconhecer, nesse movimento, uma tentativa de preenchimento de um vazio simbólico. A constante necessidade de se superar pode surgir como defesa contra a angústia de não se sentir o bastante — um deslocamento do desejo de reconhecimento para uma hiperatividade permanente. Ao invés de acolher as faltas e limites inerentes à condição humana, muitos tentam anulá-las através de performances incessantes, como se o valor pessoal dependesse exclusivamente da eficácia.
Nesse cenário, aceitar ser comum não é desistência — é liberdade. É abrir espaço para existir sem a obrigação de performar. É poder cozinhar sem medir nutrientes, correr sem registrar tempos, ler sem contabilizar títulos, criar sem pensar em monetizar. Há uma forma de saúde mental que não se constrói com metas e métricas, mas com tempo, presença e gentileza consigo. A vida, afinal, não precisa ser um projeto constante. Às vezes, ela só precisa ser vivida.